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Seis estratégias nutricionais para a saúde mental feminina

O bem-estar mental é um dos aspectos fundamentais para a qualidade de vida do indivíduo, estando entre as dimensões para um completo estado de saúde, segundo a Organização Mundial da Saúde. As mulheres sofrem, diariamente, com a pressão e a carga emocional, que se intensificaram no período de isolamento social: dupla jornada de trabalho, cuidado dos filhos, cobranças externas e autocobranças, angústia, preocupação financeira, entre outras questões que impactam na sua saúde mental de forma muito mais intensificada do que nos homens.

Inclusive, os transtornos mentais podem afetar mulheres e homens de maneira diferente. Alguns distúrbios são mais comuns nelas, como depressão e ansiedade. Elas podem experimentar essas doenças de maneira diferente – certos sintomas podem ser mais comuns em mulheres do que em homens, e o curso da doença pode ser afetado pelo sexo do indivíduo. Existem também certos tipos de distúrbios exclusivos das mulheres, por exemplo, sintomas psicológicos durante a tensão pré-menstrual (TPM), depressão pós-parto e relacionada à menopausa. 

Sabe-se a importância que os nutrientes têm na saúde mental, podendo auxiliar na melhora dessas alterações emocionais que tanto impactam na vida das mulheres. Por isso, abaixo, indicamos seis estratégias nutricionais que podem ser inclusas na prescrição para suas pacientes:

 

1. Realizar a modulação intestinal: disbiose, aumento de permeabilidade e ativação do receptor TLR-4 são algumas das alterações intestinais que levam ao quadro de inflamação, que repercute no sistema nervoso central, causando neuroinflamação. Isso gera alterações na forma de ação de neurotransmissores, como a serotonina. Por isso, realizar a modulação intestinal, com a prescrição de prebióticos e probióticos específicos para o quadro da sua paciente, é fundamental. Wallace e Milev (2017) conduziram uma revisão sistemática em que reuniram diversos estudos demonstrando melhora da depressão após intervenção com probióticos.

 

 

 

2. Preocupar-se com os horários no plano alimentar: a crononutrição envolve fatores comportamentais, fisiológicos, metabólicos e epigenéticos ao estudar a relação entre nutrição e o ciclo circadiano, não apenas do que, mas quando comemos, levando em consideração a rotina alimentar, frequência e momento do dia, impactando no sistema circadiano. Serin e Tek (2019) demonstram que alterações, a longo prazo, do sistema circadiano modificam diversos aspectos metabólicos e até mentais, podendo levar à ansiedade e depressão. A nutrição é um fator de impacto para auxiliar na regulação dos ciclos circadianos e é necessário prestar atenção aos horários, à rotina alimentar da sua paciente, principalmente, no período de isolamento social.

3. Suplementar ômega-3: a adequação do consumo diário de EPA e DHA, através do consumo de peixes livres de contaminação por metais pesados e suplementação com óleo de peixe, auxilia tanto em quadros depressivos como de ansiedade. Isso porque o ômega-3 auxilia na modulação de monoaminas, influencia na microbiota intestinal, melhora a fluidez da membrana neuronal, reduz a inflamação e modula o eixo hipotálamo e hipófise (DEACON et al., 2017; SU et al., 2017).

 

 

 

 

4. Aumentar o consumo de verduras verde-escuras: couve, brócolis e espinafre são apenas algumas das opções desse grupo de hortaliças que não podem faltar no dia a dia de sua paciente. Elas são fontes de folato, magnésio e ferro, nutrientes importantes para a síntese de serotonina e, consequentemente, melatonina, que é um hormônio essencial para manter o sistema circadiano equilibrado, o que também afeta a saúde mental.

 

 

5. Prescrever l-theanina: Sakamoto et al. (2019) conduziram uma revisão demonstrando que o consumo de 200 a 400mg de L-theanina, proveniente do chá-verde (Camellia sinensis), por pelo menos 8 semanas, é uma excelente estratégia para reduzir sintomas de ansiedade e estresse em condições agudas e crônicas. 

 

 

6. Incentivar o consumo de leguminosas: esse grupo de alimentos é rico em l-triptofano, magnésio e vitaminas do complexo B, nutrientes essenciais para a síntese de serotonina. Por isso, incluí-las no plano alimentar de suas pacientes contribui para a modulação da ansiedade e depressão.

 

 

REFERÊNCIAS

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Indicadores de Saúde: Elementos Conceituais e Práticos (Capítulo 1). Disponível em: <https://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=14401:health-indicators-conceptual-and-operational-considerations-section-1&Itemid=0&limitstart=1&lang=pt> Acesso em 14 maio 2020.

NATIONAL INSTITUTE OF MENTAL HEALTH. Women and Mental Health. Disponível em: <https://www.nimh.nih.gov/health/topics/women-and-mental-health/index.shtml> Acesso em 14 maio 2020.

WALLACE, C. J. K.; MILEV, R. The effects of probiotics on depressive symptoms in humans: a systematic review. Annals of General Psychiatry, v. 16, p. 14, 2017.

DEACON, G. et al. Omega 3 Polyunsaturated Fatty Acids and the Treatment of Depression. Critical  Reviews in Food Science and Nutrition, v. 57, n. 1, p. 212-223, 2017.

SU, K-P. et al. Association of Use of Omega-3 Polyunsaturated Fatty Acids With Changes in Severity of Anxiety Symptoms. JAMA Network Open, v. 1, n. 5, 2018.

SERIN, Y.; TEK, N. A. Effect of Circadian Rhythm on Metabolic Processes and the Regulation of Energy Balance. Annals of Nutrition and Metabolism, v. 74, n. 4, p. 322-330, 2019.

POT, G. K. Sleep and  Dietary Habits in the Urban Environment: The Role of Chrono-Nutrition. The Proceedings of the Nutrition Society, v. 77, n. 3, p. 189-198, 2018.

SIMAS, L.A.W.; WOLPE, R.E. Manual de Atendimento em Nutrição Estética. Curitiba: Editora Autores Paranaenses, 2016.

 

PASCHOAL, V. et al. Nutrição Clínica Funcional: Suplementação. Rio de Janeiro: VP Editora. 2015. v.II.

 

MAZZINI, R. Regulação nutricional e neuroendócrina da serotonina podem influenciar a síndrome pré menstrual. Perspectivas Médicas, v. 24, n. 1, p. 43-50, 2013.

SAKAMOTO, F. L. et al. Psychotropic Effects of L-theanine and Its Clinical Properties: From the Management of Anxiety and Stress to a Potential Use in Schizophrenia. Pharmacological Research, v. 147, 2019.

UNICAMP. Tabela de Composição de Aliemntos. 4.ed. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2011.

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