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Saciedade gástrica e cerebral: abordagem na prática clínica

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Um dos principais conceitos discutidos no atendimento nutricional que visa mudança de comportamento alimentar é a saciedade. Essa é uma resposta fisiológica do organismo influenciada por diversos fatores individuais. Dentre esses fatores, destacam-se a velocidade de mastigação, o volume gástrico, consistência do alimento, fatores hormonais e tempo de realização da refeição.

Pensando na fisiologia, existem dois tipos de saciedade: a gástrica e a cerebral. A saciedade gástrica é o primeiro sinal quando a refeição é ingerida. Ela está relacionada com o enchimento do estômago que pode variar de acordo com a dilatação do órgão, algo individual de paciente para paciente. Tem pessoas que esse processo depende de uma alta quantidade de alimento, e tem pessoas que não.

Quando falamos de saciedade cerebral, devemos citar o papel do hipotálamo. Essa glândula mestre controla a sinalização de componentes atuantes nos sinais de saciedade pelo sistema nervoso. A metabolização do alimento se inicia na sua passagem do estômago para o intestino. A microbiota intestinal possui a capacidade de metabolizar e ativar alguns receptores no intestino, principalmente o GPR41 e GPR43, que sinalizam a produção de peptídeos da saciedade – colecistoquinina (CCK), PYY e GLP-1. Tais peptídeos chegam ao núcleo arqueado no hipotálamo, especificamente na região de neurônios que liberam neurotransmissores anorexígenos e orexígenos. Assim, ocorre a ativação dos anorexígenos que, consequentemente, inibem a sensação de fome. Esse processo possui uma duração de pelo menos 15 a 20 minutos.

É nesse sentido que se torna necessário a mudança comportamental. Cada vez mais as pessoas tendem a comer com mais pressa, não respeitando os sinais do corpo. Diante disso, todo o processo que acontece para ativar a saciedade cerebral se perde, uma vez que o paciente que come em menos de 15 minutos respeitará apenas à saciedade gástrica. E esse fator tende a fazê-lo com que sinta fome em menor espaço de tempo.

A Dra. Ana Paula Pujol abordará em sua palestra do Módulo Nutrição Comportamental do MBNE 2020 as estratégias relacionadas ao comportamento alimentar do paciente com foco nas diferenças de saciedade gástrica, cerebral e em como discuti-las na prática clínica com manejos no plano alimentar.

 

 REFERÊNCIAS

 ELIZONDO-VEGA, R. et al. Inhibition of hypothalamic MCT1 expression increases food intake and alters orexigenic and anorexigenic neuropeptide expression. Nature. Sci. Rep., v. 28, n. 6, 2016.

 MÜNZBERG, Heike; MORRISON, Christopher D; Structure, production and signaling of leptina. Metabolism: Clinical and Experimental, v. 64, p. 13-23, jan. 2015.