A solicitação e a interpretação dos exames bioquímicos são fundamentais na prática da nutrição estética, sendo aliadas para a avaliação e, consequentemente, a intervenção nutricional, já que é a partir delas, além da anamnese e do exame físico, que serão identificadas deficiências nutricionais que se expressam, muitas vezes, na forma de desordens estéticas. A acne vulgaris é uma comum dermatose inflamatória crônica que se manifesta na forma de pápulas, pústulas, nódulos e cistos nas unidades pilossebáceas, principalmente, do rosto, do tórax e das costas. É muito comum nos adolescentes, afetando cerca de 85% dos indivíduos pertencentes a este grupo. No entanto, devido aos padrões alimentares e ao estresse, a incidência de acne feminina adulta, que começa após os 25 anos de idade, está aumentando.
A acne tem causa multifatorial, como o aumento exacerbado da produção de sebo (principalmente devido à atividade aumentada da enzima 5-α-redutase), a cornificação anormal do ducto folicular sebáceo, a colonização do ducto intrafolicular por Propionibacterium acnes (está relacionada com a disbiose intestinal) e a inflamação. Dessa forma, os exames a serem solicitados devem levar em consideração os diferentes fatores associados ao seu desenvolvimento. Confira, abaixo, os principais exames bioquímicos que você deve incluir na sua prática clínica toda vez que receber pacientes com quadro acneico, independente do grau:
Para avaliação bioquímica:
1. Glicemia de jejum, insulina de jejum e HOMA-IR: é importante avaliar um padrão alimentar com alta carga e índice glicêmicos, que podem levar ao desenvolvimento da acne ou se, no caso das mulheres, há possibilidade de haver uma resistência à insulina associada à Síndrome do Ovário Policístico (SOP), que também tem como um dos sinais o aparecimento de acne.
2. Zinco sérico e zinco eritrocitário: há uma alta prevalência de redução sérica de zinco em pacientes com acne, uma vez que este mineral está associado com a modulação do estresse oxidativo e inflamação, inibição da enzima 5-α-redutase e a modulação da insulina. O padrão ouro para avaliar é o eritrocitário, mas, como não são todos os planos de saúde que cobrem este exame e nem todos os pacientes irão ter condições financeiras para realizar de forma particular, pode-se utilizar a dosagem sérica deste mineral.
3. Selênio sérico: este mineral tem papel fundamental contra o estresse oxidativo e sua deficiência pode acarretar desenvolvimento da acne. Razavi et al. (2016) demonstraram que a suplementação com este mineral em mulheres com SOP contribuiu para a melhora da proteína C reativa ultrassensível (PCR-US), do DHEA e do ácido metilmalônico (associado ao estresse oxidativo).
4. 25-OH-vitamina D sérica: sua deficiência pode estar relacionada com a fisiopatologia da acne, como demonstrado por Lim et al (2016) em um estudo randomizado combinado com estudo de caso e controle, em que havia uma maior prevalência de deficiência desta vitamina em pacientes com acne, além dos níveis séricos da vitamina D serem inversamente proporcionais à gravidade da doença.
5. PCR-US: por ser uma doença dermatológica de cunho inflamatório crônico, é interessante avaliar a PCR-US como um dos marcadores desta inflamação, apesar de ser um fator inespecífico para esta doença, servindo apenas para acompanhar a evolução da conduta ao paciente.
6. Exames hormonais (SHBG, LH, FSH, testosterona total, testosterona livre, DHEA-S, DHEA e androstenediona): são os principais hormônios envolvidos no processo acneico. Estudos demonstram que há uma maior prevalência de hiperandrogenismo com alta elevação de DHEA em mulheres com acne, podendo estar associada ou não com SOP, uma vez que, nesta síndrome, há um aumento dos níveis de hormônios androgênicos.
7. Metabolismo lipídico (colesterol total, LDL-c, HDL-c, triglicérides, ApoA, ApoB): uma das alterações causadas pela SOP é a dos níveis de lipídios no sangue, podendo levar a uma hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia. Por isso, ao solicitar estes exames, eles podem auxiliar na investigação da causa da acne.
É importante lembrar que os exames devem ser pedidos em conjunto e que eles irão auxiliar na investigação da causa, no entanto, em caso haja dúvidas sobre a presença de alguma doença, o encaminhamento ao médico especializado deve ser feito para que haja um tratamento efetivo e integrado do paciente, gerando resultados em longo prazo que beneficiem sua autoestima, sua qualidade de vida e seu bem-estar.
REFERÊNCIAS
SIMAS, L.A.W.; WOLPE, R.E. Manual de Atendimento em Nutrição Estética. Curitiba: Editora Autores Paranaenses, 2016.
PUJOL, A. P. (Org.). Nutrição Aplicada à Estética. Rio de Janeiro: Rubio, 2011.
BURRIS, J. et al. A Low Glycemic Index and Glycemic Load Diet Decreases Insulin-like Growth Factor-1 Among Adults With Moderate and Severe Acne: A Short-Duration, 2-Week Randomized Controlled Trial. Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics, v. 118, n. 10, p. 1874-1885, 2018.
UYSAL, G. et al. Is Acne a Sign of Androgen Excess Disorder or Not? European Journal of Obstetrics, Gynecology and Reproductive Biology, v. 211, p. 21-25, 2017.
KIM, K. et al. A Comparative Study of Biological and Metabolic Biomarkers Between Healthy Individuals and Patients With Acne Vulgaris: A Cross-Sectional Study Protocol. Medicine, v. 96, n. 45, 2017.
RAZAVI, M. et al. Selenium Supplementation and the Effects on Reproductive Outcomes, Biomarkers of Inflammation, and Oxidative Stress in Women With Polycystic Ovary Syndrome. Hormone and Metabolic reserach, v. 48, n. 3, p. 185-190, 2016.
LIM, S-K. et al. Comparison of Vitamin D Levels in Patients With and Without Acne: A Case-Control Study Combined With a Randomized Controlled Trial. PLoS One, v. 11, n. 8, 2016.