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A interação dos polimorfismos genéticos e emagrecimento

Gerenciamento de peso: atualize-se sobre a relação gene e nutriente 

O conceito de interação de gene e nutriente descreve os efeitos dos componentes dietéticos em um fenótipo específico associado a um polimorfismo genético, que é uma variação na sequência de DNA, responsável pela diversidade humana. Além disso, os polimorfismos podem influenciar diretamente sobre fatores de risco associados a diversas patologias ligadas à obesidade, como diabetes melito, hipertensão, etc.

O polimorfismo mais comum do gene da IL-6 é o -174C/G, que tem sido associado à obesidade, resistência à insulina e DMT2. Outro polimorfismo conhecido é o Asp358Ala (T/G), que, em um estudo realizado com homens japoneses, foi associado à maior obesidade abdominal devido ao elevado consumo de energia, quando foram comparados indivíduos portadores do fator de risco com aqueles que não o apresentavam. Outro estudo avaliou a o efeito de uma dieta hipocalórica em indivíduos obesos portadores do polimorfismo -174 C/G e do Pro12Ala, do gene PPAR-gama. Nesse estudo, os indivíduos que possuíam o alelo C e o alelo A nos genes da IL-6 e do PPAR-gama, respectivamente, apresentaram maior resistência à perda de peso, o que evidencia o efeito sinérgico de ambos na perda de peso com essa estratégia nutricional. Além disso, estudos demonstraram que pacientes portadores do genótipo Pro12Ala apresentaram maior incidência de diabetes melito, quando consumiam uma dieta com alta quantidade de gorduras saturada e trans, ao serem comparados a indivíduos sem o alelo Ala.

Um estudo sobre a interação de gene e nutriente demonstrou que o consumo de 50% do VET proveniente de carboidratos pode estar associado ao aumento do risco para obesidade em mulheres com o polimorfismo GLN27Glu do gene ADRB2, que afeta diretamente a lipólise. Também associando estilo de vida e polimorfismo, o estudo realizado com 67 pacientes obesos avaliou a influência da dieta hipocalórica mediterrânea, rica em cereais, frutas, vegetais e azeite, juntamente com a prática de atividade física 3 vezes por semana. Os resultados indicaram que pacientes portadores homozigotos Lys apresentaram maior redução de peso, IMC, circunferência abdominal e pressão arterial quando comparados aos pacientes portadores do alelo de risco Asn, do polimorfismo Lys656Asn do gene receptor de leptina (LEPR).

Nos últimos anos, pesquisadores associaram positivamente o polimorfismo rs9939609 do gene FTO à obesidade em diferentes etnias. As análises indicaram que indivíduos homozigotos para o alelo de risco A tendem a ingerir maior quantidade de alimento e possuem resposta reduzida de fome e saciedade após a refeição do que indivíduos homozigotos TT ou heterozigotos AT. Entretanto outros pesquisadores levantaram a informação de que os indivíduos homozigotos AA apresentam maior perda de peso a partir de alterações na dieta e no estilo de vida.

O entendimento entre o consumo dietético e os genes associados ao ganho de peso poderá fornecer uma base para a possível utilização de dietas personalizadas específicas. Os estudos realizados nessa área são relevantes por estudar a influência de determinado polimorfismo na expressão do fenótipo e avaliar a resposta desses diferentes genótipos à determinada intervenção dietética.

 

REFERÊNCIAS:

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LIMA, W.m Al. Fenótipo da gordura, fatores associados e o polimorfismo rs9939609 do gene FTO. Rev Brasileira Cineantropom Desempenho Humano, Brasília, v. 2, n. 12, p.164-172, dez. 2009.

STEEMBURGO, T.; AZEVEDO, M. J. de; MARTÍNEZ, J. A. Interação entre gene e nutriente e sua associação à obesidade e ao diabetes melito. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, [s.l.], v. 53, n. 5, p.497-508, jul. 2009.

 XIANG, L. et al. FTO genotype and weight loss in diet and lifestyle interventions: a systematic review and meta-analysis. The American Journal Of Clinical Nutrition, [s.l.], v. 103, n. 4, p.1162-1170, 17 fev. 2016.