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A influência da nutrigenômica na prevenção e no tratamento do câncer de mama

Uma estimativa global aponta que, em 2008, em torno de 1.38 milhões de novos casos de câncer de mama foi diagnosticado, o que representou 23% de todos os casos de câncer. Além disso, segundo o Instituto Nacional de Câncer, o número de novos casos esperados para o território brasileiro entre 2016/2017 foi de 57.960, representando 28,1% de todos os novos casos de câncer no país. A Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (WHO-International Agency for Research on Cancer) listou uma série de fatores de risco que podem ajudar a explicar a incidência dessa patologia no mundo. Interessantemente, a maioria desses fatores está associada à nutrição, como obesidade, consumo de álcool, etc.

Estudos mostraram que o tipo ou a forma do câncer de mama é determinado no momento do seu início, sugerindo que fatores genéticos e ambientais exercem um papel importante no desenvolvimento do tumor e no progresso da doença. Com isso, o crescente campo de pesquisa, referido como nutrigenômica, afirma que a nutrição tem um impacto no genoma de tal forma que é primordial compreender essa interação, em detalhes, a fim de evitar problemas de saúde e auxiliar no tratamento de doenças.

As expressões de perfis genéticos são controladas por alterações epigenéticas, que podem ser definidas como variações no ambiente da cromatina de um gene. Entre as alterações epigenéticas relacionadas ao câncer de mama mais estudadas estão a acetilação/desacetilação de histonas e, mais recentemente, a metilação/desmetilação. Nesse tipo de câncer, modificações nas histonas, combinadas com hipermetilação do DNA, são associadas ao silenciamento epigenético de genes responsáveis pela supressão tumoral e instabilidade genômica.

O BRCA1 é um gene que se encontra hipermetilado em casos de câncer de mama e, se mutado, aumenta as chances de aparecimento da patologia em 45-85%. As vias de sinalização Wingless e WnT, que controlam a diferenciação, proliferação e polarização celular, também estão associadas com a maior incidência da doença quando hipermetiladas. Outro ponto de interesse é o micro RNA (miRNA), que controla a tradução do RNA mensageiro em proteínas e que, se hipermetilado, silencia os genes promotores da supressão tumoral.

Estudos relatam importantes relações entre consumo calórico, ingestão de determinados alimentos, nutrientes e fitoquímicos com alterações epigenéticas interessantes ao tratamento e/ou à prevenção do câncer. É importante, ainda, lembrar o papel da dieta da gestante na programação metabólica do feto, pois a alimentação adequada pode reduzir as chances de a criança desenvolver câncer no futuro.

Pesquisas recentes associam o consumo excessivo de colina na gestação a uma menor expressão de genes de supressão do crescimento tumoral. Por sua vez, este mesmo estudo revela que, em caso de baixos níveis de folato na dieta materna, é necessária uma suplementação para que se atinjam as recomendações, uma vez que essa estratégia resulta em maior expressão de genes associados a um prognóstico favorável em relação ao câncer de mama. Outra substância que merece atenção das gestantes é o álcool, que, quando metabolizado, produz acetaldeído, substância considerada genotóxica, por inibir o reparo do DNA e modular as enzimas envolvidas no metabolismo do carcinoma.

Além da dieta materna, a opção pelo aleitamento materno (AM) reduz a incidência de câncer de mama mediante diversos mecanismos biológicos, como a inibição da ovulação, o que reduz a exposição do tecido ao efeito mitogênico do estrógeno. A excreção de carcinógenos pelo leite humano e/ou a exfoliação do tecido mamário são fatores que auxiliam a eliminar células com DNA danificado, dessa forma, reduzindo as chances de mutação. O aleitamento materno reduz as concentrações plasmáticas de insulina, o que diminui as chances de desenvolver câncer de mama, visto que evidências indicam que altos níveis de insulina crônicos aumentam as concentrações plasmáticas de IGF-1 (Insulin-like-growth fator), que está associado à proliferação e aos efeitos antiapoptóticos no tecido mamário.

Os poucos estudos que se concentram no impacto dos alimentos no epigenôma humano apontam fatos interessantes sobre o consumo das isoflavonas de soja. Um estudo mostrou a relação entre o consumo de soja e modificações na metilação de genes reguladores da proliferação (RARβ2 e CCND2) associada ao desenvolvimento do câncer de mama. Além disso, a isoflavona da soja tem sido associada ao aumento da metilação de genes que codificam o IGF-2 e a ciclina G2 nas células epiteliais mamárias. Portanto, os compostos relacionados à soja poderiam regular diversos genes associados à proliferação.

Além das isoflavonas, evidências sugerem que dietas que forneçam uma boa variedade de polifenóis são úteis para a prevenção e o controle do câncer de mama. Embora o efeito mais conhecido dos polifenóis seja relacionado ao seu poder antioxidante, estudos indicam que esses fitoquímicos também interagem com outras vias, principalmente ligados à sinalização dos receptores. Esses estudos afirmam que os polifenóis podem regular os receptores de estrógeno e tirosina quinase, induzindo apoptose e/ou autofagia celular, mecanismo relacionado ao desenvolvimento do câncer de mama primário e secundário. Ademais, esses compostos foram relacionados ao aumento de genes antioxidantes, à diminuição da proliferação de células de câncer, ao bloqueio de citocinas pró-inflamatórias ou endotoxinas mediadas por quinases e fatores de transcrição associados à progressão do câncer e redução da atividade da histona desacetilase.

REFERÊNCIAS:

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