O microbioma intestinal é um importante regulador do eixo intestino-pele. O intestino e a pele são órgãos densamente vascularizados, que apresentam ações em comum relacionadas à proteção imunológica e ao papel neuroendócrino essencial. Evidências apontam uma ligação direta e bidirecional entre o intestino e a pele, onde há diferentes estudos que ligam a saúde gastrointestinal com a homeostase da pele.
Como o maior órgão do corpo, a pele sofre a exposição a agentes físicos, químicos, bacterianos e fúngicos. O microbioma intestinal influencia no microbioma da pele. A fermentação de fibras no intestino leva à produção de ácidos graxos curtos de cadeia curta (AGCC), especialmente propionato, acetato e butirato. Esses ácidos graxos desempenham uma ação crucial na determinação de perfis microbiômicos da pele, assim, influenciando nos mecanismos de resposta imunológica cutânea.
Sabe-se que a suplementação com probióticos é eficiente para a modulação bacteriana intestinal e para minimização de distúrbios clínicos. Além disso, a literatura demonstra sua eficácia na promoção da saúde cutânea, direta ou indiretamente, podendo ser uma estratégia promissora para tratamento coadjuvante e prevenção de desordens estéticas. A bacterioterapia probiótica apresenta alto potencial na prevenção de doenças da pele, como dermatite atópica, acne, inflamação dérmica, hipersensibilidade, danos induzidos pela radiação UV e efeitos ocasionados pelo uso crônico de cosméticos artificiais.
A nutrição estética envolve a prescrição dietoterápica, associada à prescrição nutricional, incluindo probióticos. Uma recente revisão bibliográfica (2018) avaliou os efeitos de diferentes cepas probióticas na saúde da pele, em modelos animais e humanos de ensaios clínicos, levantando diferentes resultados positivos nesta intervenção. Em um estudo conduzido por Levkovich et al. (2013), a suplementação de Lactobacillus reuteri em modelos animais favoreceu o aumento da espessura dérmica, da elevação da foliculogênese e da produção de sebócitos, resultando em pele com aparência diferenciada. Outra cepa avaliada foi Lactobacillus brevis, cuja administração resultou na redução do tônus do nervo simpático arterial cutâneo e aumento do fluxo sanguíneo, potencializando a liberação de serotonina a partir das células enterocromafinas intestinais.
Segundo Baba et al. (2010), a utilização de Lactobacillus helveticus foi capaz de reduzir a gravidade de dermatite induzida por composto químico (dodecilsulfato de sódio). Pesquisas demonstraram, ainda, que a administração de Lactobacillus paracasei favoreceu a recuperação da função dérmica e diminuição dos sinais de inflamação cutânea reativa, como degranulação de mastócitos, vasodilatação e edema.
Deve-se destacar que a disbiose intestinal afeta negativamente na função da pele, sendo que, metabólitos como fenol livre e p-cresol são considerados biomarcadores de desequilíbrio bacteriano no intestino, uma vez que sua síntese é induzida pela presença de bactérias patogênicas, incluindo Clostridium difficile. Tais metabólicos se locomovem para a circulação, acumulando-se no tecido cutâneo e dificultando a diferenciação epidérmica e a integridade de membrana.
A modulação bacteriana intestinal pode ser feita pelo manejo da nutrição estética, com a adequada prescrição de cepas bacterianas de qualidade e que promovam os benefícios esperados para a saúde dérmica.
REFERÊNCIAS
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LEVKOVICH, T. et al. Probiotic bacteria induce a ‘glow of health’. PLoS One, v. 8, n. 1, p. 1-11, 2013.
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