O papel dos nutrientes e compostos bioativos na cirurgia plástica
Com a epidemia de sobrepeso e obesidade e o aumento da longevidade, a preocupação em manter uma aparência jovem e saudável fez com que o número de cirurgias plásticas crescesse consideravelmente. De acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), o Brasil ocupava a vice-liderança no ranking de procedimentos cirúrgicos em 2015, com 1,2 milhão de cirurgias plásticas e 1,1 milhão de procedimentos estéticos. Ao submeter um paciente a esse tipo de procedimento é necessário atenção extra ao seu estado nutricional, uma vez que altos valores de IMC estão associados ao aumento da concentração de fatores inflamatórios no organismo, além de doenças associadas à obesidade reduzirem a margem de segurança das drogas anestésicas; a má nutrição do paciente também aparece como uma das maiores causas de complicações pós-cirúrgicas. A deficiência de micro e macronutrientes é, normalmente, associada com a depressão das funções imunológicas humorais e celulares, as alterações na resposta inflamatória e o atraso ou a falha no processo de cicatrização de feridas.
A dieta pré-operatória tem influência no sucesso da cirurgia e pode ajudar a reduzir as complicações pós-cirúrgicas. Antes da operação é importante suspender o uso de suplementos alimentares de uso contínuo que possam interferir na coagulação sanguínea, como óleo de peixe e vitamina E, e que possam interagir com os anestésicos, como a melatonina. A suplementação de micronutrientes para melhorar a recuperação pós-cirúrgica é relatada desde a Segunda Guerra Mundial, pois estudos demonstram médicos suplementando 1000mg/dia de vitamina C, por 3 dias, antes da operação, e 100mg/dia durante a recuperação, resultando em redução de 76% das complicações pós-operatórias relacionadas à cicatrização de feridas. De fato, a vitamina C é um dos micronutrientes mais importantes para a cicatrização, pois é necessária para o funcionamento correto da protocolágeno hidroxilase, enzima que produz o colágeno, proteína presente na fase proliferativa, que corresponde ao período responsável por fechar o ferimento em si e na fase de remodelamento da lesão. Além disso, a vitamina C age como antioxidante, combatendo os radicais livres produzidos durante a inflamação e, posteriormente, no processo de cicatrização.
O aumento da necessidade proteica e energética é observado durante o pós-inflamatório devido ao processo inflamatório e ao remodelamento na cicatrização de feridas. O cenário catabólico resulta em diminuição da massa muscular e imunodeficiência, caso o paciente não receba a nutrição necessária. Estudos demonstraram que a suplementação de glutamina no pós-operatório melhorou a cicatrização de feridas e reduziu o tempo de permanência no hospital, ao aumentar o anabolismo proteico por meio da translocação de nitrogênio para a ferida. Além disso, outro estudo demonstrou que a suplementação oral de arginina também tem efeitos positivos na recuperação do paciente, uma vez que esse aminoácido é precursor de óxido nítrico, que causa vasodilatação e desempenha ação antibacteriana e angiogênica. A arginina atua também como substrato para proliferação celular e síntese de colágeno, proteína fundamental para a cicatrização, uma vez que compõe de 80-90% do tecido conectivo da pele.
De acordo com o estudo de Bharadwaj et al. (2016), a implementação de uma dieta pré e pós-operatória específica resultou em melhor cicatrização de feridas e diminuição no tempo de permanência hospitalar. O que reforça a ideia da importância do acompanhamento nutricional desde o pré-operatório em cirurgias eletivas.
REFERÊNCIAS:
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