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A nutrição no tratamento da dermatite atópica

Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a dermatite atópica (DA) é um dos tipos mais comuns de alergia cutânea, sendo caracterizada por eczema atópico. Trata-se de uma doença genética, crônica, que, nas últimas duas décadas, também, vem sendo considerada um transtorno de desregulação imune. Seu surgimento é mais comum nas dobras dos braços e na parte de trás dos joelhos, caracterizando-se por pele seca, erupções que produzem coceiras e crostas, não apresentando contágio por contato.

Atualmente, a DA afeta de 10 a 15% da população em geral, sendo a incidência maior em crianças, que, na maioria, evolui com remissão da doença na vida adulta. Acredita-se que os pacientes de DA portadores de genes específicos desempenham um papel importante com genes de atopia “genéricos”. Um estudo de coorte demonstrou que o risco de uma criança com DA foi maior quando um ou ambos os pais possuíam DA em comparação com o risco quando os pais tinham asma ou rinite alérgica.

Apesar de a etiopatogênese ser complexa e, ainda, não totalmente elucidada, estudos apontam que fatores ambientais e outros aspectos, como o consumo de alergenos alimentares, podem influenciar a expressão da doença. A sensibilização ocorre classicamente pelo trato gastrointestinal devido à disfunção da barreira intestinal presente em alguns pacientes, com a consequente absorção de proteínas alimentares, o que leva ao desenvolvimento de alergia alimentar. Entre os alimentos mais citados estão leite de vaca, ovos, trigo, soja, nozes e amendoim. Cerca de 30% dos pacientes com DA apresenta alergia alimentar, desse modo, respondendo ao porquê a existência dessa correlação.

Em 1983, a alergia alimentar foi associada à patogênese da dermatite atópica pela primeira vez, quando 26 crianças entre 16 meses e 19 anos foram submetidas a testes de provocação oral com alimentos. Em 15 pacientes, foi observada piora dos sintomas, com desenvolvimento de erupções eritematosas e maculopapulares até duas horas após a ingestão dos alimentos. Leite de vaca, clara de ovo, soja e amendoim foram os alimentos que mais desencadearam reações positivas.

Porém, ainda, há controversas, pesquisas que mostram a baixa frequência de alergias alimentares, induzindo sintomas de DA, apontam que o foco deve retornar à terapia apropriada da pele; e a identificação de alergias verdadeiras aos alimentos deve ser reservada para DA recalcitrante em crianças cuja suspeita de alergia alimentar é alta.

Ainda entre os fatores envolvidos na gênese da DA, a deficiência de vitamina D em pacientes atópicos pode ser destacada. Evidências recentes demonstram a influência da vitamina D na imunomodulação associada à produção de queratinócitos de peptídeos antimicrobianos (AMP). A vitamina D diminui a suscetibilidade à infecção em pacientes com DA e controla a resposta imune inflamatória local, representando uma ferramenta promissora para a compreensão e o tratamento dessa doença inflamatória crônica.

Também, faz parte do tratamento da DA o cuidado dermatológico visando ao controle da coceira, à redução da inflamação da pele e à prevenção das recorrências. Em razão de a pele estar ressecada, a base do tratamento é o uso de hidratantes, que, além de hidratar a pele seca, alivia o eczema e fortalece a barreira cutânea, sendo que, em alguns casos, o uso de medicamentos orais e cutâneos é indicado.

REFERÊNCIAS

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA. Dermatologia. Disponível em: https://www.sbd.org.br/dermatologia/pele/doencas-e-problemas/dermatite-atopica/59/ Acesso em: 06 fev. 2018

GUIBAS, G. V., et al. Atopic Dermatitis, food allergy and dietary interventions. A tale of controversy. Anais brasileiros de dermatologia, v. 88, n. 5, p. 839-841, 2013.

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