Segundo a literatura científica, infertilidade é a incapacidade de conceber após mais de um ano de relações sexuais desprotegidas na ausência de outras patologias reprodutivas. É um problema de saúde global, afetando cerca de 48 milhões de casais e 186 milhões de indivíduos no mundo. Entre todos os casos, 50% são atribuídos à infertilidade feminina, 20 a 30% à masculina e de 20 a 30% são uma combinação de fatores de ambos (ALESI et al., 2022).
Os tratamentos atuais incluem estimulação ovariana com ou sem inseminação intrauterina (IIU) e/ou fertilização in vitro (FIV). Entretanto, os altos custos da fertilização in vitro e outras tecnologias de reprodução assistida (ART) fazem com que sejam inacessíveis para muitos casais (ALESI et al., 2022; FABOZZI et al., 2022).
A introdução intra-útero (IUI) é uma alternativa menos custosa, porém menos eficaz e isso se deve, principalmente, à má qualidade do esperma, levando à degeneração prematura antes que o esperma atinja as trompas de falópio (ALESI et al., 2022).
A alimentação como fator modificável no tratamento da infertilidade
Fatores de risco relacionados ao estilo de vida, como estresse, obesidade e alimentação inadequada demonstraram exacerbar a infertilidade. Sendo estes amplamente modificáveis, destaca-se a necessidade de identificar estratégias não intrusivas e acessíveis para esse quadro (ALESI et al., 2022; FABOZZI et al., 2022; HAN; CHEN; DU, 2022).
A dieta pré-concepção envolve a redução de alimentos discricionários (limitando a ingestão de açúcares simples adicionados e gordura saturada) e aumentando o consumo de vegetais, grãos integrais, peixes e alimentos ricos em gorduras insaturadas.
O mecanismo exato dessas interações ainda é incerto, todavia, acredita-se que a inflamação desempenha um papel fundamental (ALESI et al., 2022; FABOZZI et al., 2022; HAN; CHEN; DU, 2022).
Inflamação: o ponto de início
A inflamação é um processo normal do corpo em resposta à infecção ou lesão. No entanto, a inflamação subcrônica prolongada, também conhecida como inflamação de baixo grau, pode levar a efeitos adversos à fertilidade, incluindo alterações no fluxo menstrual, falha na implantação, endometriose e aborto recorrente em mulheres, ao passo que, nos homens, a inflamação tem impacto negativo na qualidade do esperma (ALESI et al., 2022; FABOZZI et al., 2022).
A principal distinção entre inflamação aguda e crônica está na resolução da inflamação, sendo que em estados de inflamação crônica de baixo grau, não há término da inflamação e níveis persistentemente altos de mediadores inflamatórios possuem efeitos deletérios para vários sistemas, inclusive o sistema reprodutor
(ALESI et al., 2022; FABOZZI et al., 2022).
Alimentação anti-inflamatória: o que priorizar?
Frutas, verduras, legumes, grãos integrais, nozes e peixe estão inversamente associados com a inflamação. Em contraste, o maior consumo de carne vermelha, carnes processadas, açúcar, carboidratos simples, gorduras (saturadas e trans) e alimentos ultraprocessados estão positivamente associados ao ambiente pró-inflamatório (ALESI et al., 2022; FABOZZI et al., 2022).
Produtos lácteos, segundo a literatura científica, têm efeitos neutros sobre os biomarcadores de inflamação, como Proteína C Reativa (PCR), porém, vale ressaltar que esses alimentos variam significativamente em composição nutricional (como teor de gordura, fermentação, etc.) e nos efeitos nas concentrações de citocinas (ALESI et al., 2022).
Nutrição de precisão: o novo conceito do atendimento personalizado
Conforme Fabozzi et al. (2022), a nutrição de precisão engloba todas as vertentes do indivíduo, considerando seu próprio genoma, proteoma, metaboloma, microbioma e expossoma. Considerando as evidências disponíveis, o suporte nutricional personalizado para a fertilidade feminina deve:
– Aprofundar as escolhas de vida da paciente para delinear uma suplementação mais adequada;
– Combinar vários nutrientes com propriedades nutrigenômicas anti-inflamatórias, pois podem estabelecer sinergias e/ou modular várias vias celulares e moleculares ao mesmo tempo;
– Excluir/reduzir alimentos ou hábitos pró-inflamatórios (por exemplo, métodos de cozimento prejudiciais), porque muitas vezes não é apenas uma questão de “o que comer”, mas também “o que evitar”;
– Monitorar a resposta glicêmica e insulinêmica pós-prandial;
– Gerenciar carga glicêmica de cada refeição, combinação dos alimentos com o modo de cozinhar, o uso de temperos e o horário das refeições.
A nutrição personalizada é uma ferramenta para preservar a saúde, em vez de tratar uma condição então pode ser necessária uma mudança na mentalidade cultural que veja uma nutrição mais saudável e personalizada como parte da prevenção da infertilidade e não somente do tratamento.
Polifenóis, vitaminas, minerais e probióticos específicos podem ser vistos no artigo comentado “Nutrição personalizada no tratamento da infertilidade feminina: novos insights sobre inflamação crônica de baixo grau”.
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Referências:
FABOZZI, Gemma et al. Personalized Nutrition in the Management of Female Infertility: new insights on chronic low-grade inflammation. Nutrients. Itália, p. 1-41. maio 2022. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC9105997/?report=classic. Acesso em: 12 jan. 2023.
HAN, Qixin; CHEN, Zi-Jiang; DU, Yanzhi. Dietary supplementation for female infertility: Recent advances in the nutritional therapy for premature ovarian insufficiency. Front Microbiol. China, p. 1-29. 17 nov. 22. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36466679/. Acesso em: 12 jan. 2023.