A Cannabis sativa, planta popularmente conhecida como maconha, possui diversos derivados canabinoides como o canabidiol (CBD), com propriedades terapêuticas importantes no manejo de desordens neuropsiquiátricas.
Embora o uso da planta seja ilícito no Brasil, a literatura tem apontado para o potencial dos derivados canabinoides, sobretudo, do CBD no tratamento da ansiedade, epilepsia, distúrbios do sono, esquizofrenia, mal de Parkinson, esclerose múltipla e até mesmo no câncer. Contrariamente à substância delta-9-tetra-hidrocanabinol (Δ9-THC), responsável pelos efeitos alucinógenos e entorpecentes da planta, o canabidiol se tornou alvo de pesquisas, sobretudo, ao agir de forma antagônica ao Δ9-THC e contribuir para a modulação de receptores neuronais.
Além de suas propriedades para a saúde, os canabinoides promovem efeitos fisiológicos associados à nutrição, que estão relacionados ao aumento da fome e da entrada de alimentos em nível gastrointestinal, ao estímulo à diferenciação e ao crescimento de adipócitos, à diminuição da produção de adiponectina e do consumo da energia destinada à oxidação e produção de calor, bem como ao aumento da resistência à ação da insulina e à diminuição do consumo de energia muscular. Já os alimentos à base de Cannabis podem agregar nutrientes importantes à dieta, como é o caso, por exemplo, de produtos que utilizam cânhamo (ou hemp) em sua composição. O hemp e a maconha são linhagens diferentes de plantas que pertencem à espécie Cannabis sativa L., embora seu conteúdo de Δ9-THC, de princípios psicoativos, o cultivo e as aplicações sejam distintos dos da maconha propriamente dita.
Sob o ponto de vista nutricional, alimentos à base de hemp possuem alto teor de ácidos graxos ômega-6 e ômega-3; especificamente, as sementes e o óleo de cânhamo contêm ácido linoleico e alfalinolênico, substâncias com caráter anti-inflamatório e moduladores da saúde cardiovascular, além das sementes apresentarem considerável teor proteico e de fibras alimentares. Garcia (2017) aponta também que, por se tratar de um alimento com propriedades nutricionais e terapêuticas, as sementes de hemp poderiam ser consideradas, per se, um alimento funcional; em razão de seu perfil suficiente em aminoácidos, as sementes têm elevado potencial para serem utilizadas na indústria de alimentos e como um ingrediente funcional.
Portanto, embora o Brasil limite o uso de canabinoides e restrinja o consumo de alimentos à base de Cannabis sativa, cada vez mais pesquisas surgem confrontando tal restrição, à medida que pacientes se beneficiam dos efeitos terapêuticos promissores do CBD. Como alimento funcional, maiores esclarecimentos são necessários sobre seu uso, seja na forma de alimento ou de suplementos nutricionais.
REFERÊNCIAS
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GONÇALVES, G.A.M.; SCHLICHTING, C.L.R. Efeitos benéficos e maléficos da Cannabis sativa. Revista UNINGÁ Review, v. 20, n. 2, p. 92-7, out, 2014.
MACKAY, D.S. et al. Hemp food product consumption for 4 weeks raises red blood cell alpha linolenic acid, but not total n-3 polyunsaturated fatty acid content, compared to a soybean and sesame control product in free living participants who are overweight or obese. The FASEB Journal, v. 31, n. 1, 2017.
MATOS, R.L.A et al. O uso do canabidiol no tratamento da epilepsia. Revista Virtual de Química, v. 9, n. 2, p. 786-814, 2017.
PIMENTEL, K.G.B. et al. Utilização terapêutica do canabidiol no tratamento da esquizofrenia. Journal of Biology & Pharmacy and Agricultural Management, v. 13, n. 1, jan, 2017.
RIBEIRO, J.A.C. A cannabis e suas aplicações terapêuticas. 2014. 65 fls. Dissertação (Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas) – Universidade Fernando Pessoa, 2014.
SILVA, S.A. Uso do canabidiol em portadores de crises convulsivas refratárias no brasil. Revista UNINGÁ, v. 56, n. 1, p. 1-16, jan, 2019.