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Estresse e ganho de peso: qual a relação?

O estresse é definido como um estado de desequilíbrio da homeostase orgânica, após exposição a fatores estressores, extrínsecos ou intrínsecos. A resposta adaptativa ao estresse é determinada, para cada pessoa, por meio de fatores genéticos, ambientais e fisiológicos, sendo fundamental para a sobrevivência do indivíduo, entretanto, a prolongação dessa resposta, durante o estresse crônico, pode propiciar alterações no metabolismo, com isso, provocando algumas consequências.

Situações de estresse levam à ativação do eixo hipotálamo-hipófise adrenal (HHA), também conhecido como hipotálamo-pituitária adrenal (HPA). Uma das respostas mais características ao estresse é a liberação do hormônio liberador de corticotropina (CRH) pelo núcleo paraventricular do hipotálamo. Após ser secretado, o CRH é liberado na circulação portal hipotalamo-hipofisaria, atingindo a hipófise anterior, na qual estimula a liberação do hormônio adrenocorticotrópico (ACTH). O ACTH atinge a circulação sanguínea, indo até a glândula adrenal, que irá corresponder a esse estímulo, aumentando com a síntese liberação de glicocorticoides, como o cortisol.

O cortisol regula a diferenciação do tecido adiposo, bem como sua função e distribuição, contribuindo para a obesidade visceral. Além disso, o cortisol elevado, de forma crônica, também modifica o metabolismo dos lipídios, aumentando a atividade da enzima lipase lipoproteica, que é responsável pelo acúmulo de triacilgliceróis no tecido adiposo. Dessa forma, essas alterações contribuem ainda mais para a resistência à insulina, à obesidade e para a síndrome metabólica.

O estresse, de igual modo, pode alterar a ingestão energética, visto que tanto o CRH quanto o cortisol influenciam nos mecanismos de fome e saciedade. Comumente, a situação de estresse é associada ao ganho de peso, isso porque fisiologicamente, durante um fato estressante, ocorre uma produção excessiva de cortisol, inibindo CRH – mediante mecanismos de feedback negativo, permitindo a ativação das vias orexigenas, aumentando o consumo alimentar e, consequentemente, o ganho de peso.

Um estudo foi realizado com mulheres que se tornaram obesas após um evento estressante e demonstrou-se que elas possuíam tendência a maiores níveis de cortisol urinário, de 24 horas, do que mulheres que se tornaram obesas sem relação com algum fator estressante. Pesquisas também evidenciaram que a ativação do eixo HHA, em resposta ao estresse, encontra-se em maior nível para mulheres do que para homens, sugerindo que a mulher estoca gordura visceral em resposta ao estresse com mais facilidade do que o homem.

O tratamento do estresse pode ser realizado por uma equipe multidisciplinar como acompanhamento terapêutico (médico e psicólogo) e também nutricional, por meio do consumo de nutrientes e fitoterápicos que auxiliem a modular o estresse.

Ainda dentre os nutrientes, citados na literatura, que atuam no tratamento do estresse, destacam-se as vitaminas do complexo B, com destaque para as vitaminas B5, B6 e B9; tirosina; teanina; fosfatidilserina; β-sitosterol; e ômega-3. Também são citados os fitoterápicos: Rhodiola rósea, Panax ginseng, Eleutherococcus senticosus, Whitania somnifera, Schisandra chinensis e Glycyrrhiza glabra, que atuam com efeito adaptágeno.

REFERÊNCIAS

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NAVES, A. Nutrição clínica funcional: obesidade. In: NUTRIÇÃO clínica funcional: obesidade. São Paulo: VP Editora, 2009.

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