O intestino e a pele são barreiras físicas e biológicas extremamente importantes para o sistema imunológico. Ambos são colonizados por microrganismos que constituem as suas respetivas microbiotas e garantem a homeostase do corpo. Além disso, anatomicamente, o intestino e a pele compartilham propriedades semelhantes, como a alta vascularização, rica perfusão e são providos de inúmeros neurônios.
Estudos comprovam que esses dois órgãos estão fortemente associados, formando o eixo intestino-pele. Segundo a comunidade científica, quatro principais cenários podem explicar tal circunstância: (1) o intestino produz metabólitos, neurotransmissores e hormônios que podem entrar na circulação e afetar a pele. No caso de uma disbiose intestinal, o corpo produz toxinas que podem sair do intestino e alterar a barreira da pele. (2) O mesmo acontece com a pele, que produz substâncias que podem interferir no intestino, como por exemplo a vitamina D. (3) A alimentação também pode causar modificações na pele diretamente ou indiretamente, através da metabolização realizada pelo intestino. (4) E como último fator, o sistema imunológico, pois os dois órgãos são portas de entrada para elementos patogênicos e podem desencadear diversas doenças.
O cenário da alimentação como fator influenciador da saúde da pele é evidenciado pelos estudos científicos. A alta ingestão de carboidratos e gorduras saturadas leva à um aumento da produção de ácidos graxos monoinsaturados e triglicerídeos no sebo, gerando a colonização da bactéria Propionibacterium acnes, principal causadora das lesões acneicas.
Através de estudos, sabe-se que existe uma associação entre alergia alimentar e dermatite atópica. A exposição à alergênicos pela via cutânea induz a produção de antígenos extremamente eficientes que desencadeiam um bloqueio da tolerância oral. Dessa forma, o intestino fica exposto aos alergênicos como trigo, ovo, amendoim, entre outros, resultando nos sintomas de alergia. Complementando o eixo intestino-pele, foram relatados casos de disbiose intestinal associados a dermatite atópica, onde a eliminação do excesso de bactérias patogênicas no intestino levou à uma regressão significativa das lesões de pele.
Além da acne e da dermatite, a acantose nigricans é outra doença de pele relacionada ao intestino. A literatura científica indica que é uma condição secundária à alteração da microbiota do intestinal, e ainda expõe que a doença demonstrou ser um marcador de rastreamento para obesidade e resistência à insulina.
Estratégias que aumentam ou reparam a barreira intestinal têm ganhado importância como terapia adjuvante no tratamento de doenças inflamatórias da pele. Esse mecanismo acontece através da indução à modificação da atividade secretora, metabólica e hormonal do epitélio intestinal, a fim de amenizar a inflamação cutânea.
O Dr. Murilo Pereira palestrará no Módulo Modulação intestinal & Saúde do MBNE 2020 sobre manejos nutricionais na acantose nigricans, dermatite e acne. A nutrição integrada traz, através do eixo intestino-pele, a relação entre doenças de pele e microbiota intestinal.