BLOGS CIENTÍFICOS

Disbiose: É Possível Tratar com Fitoquímicos?

A microbiota intestinal é um ecossistema complexo e composto por trilhões de micro-organismos com capacidade de interagir com o hospedeiro, dessa forma, estabelecendo uma relação de simbiose entre eles. O equilíbrio desse ecossistema é crítico para manter a homeostasia do hospedeiro, regulando o metabolismo, inflamação, proliferação celular e sistema imune. Por isso, alterações na microbiota intestinal estão associadas a doenças inflamatórias intestinais, câncer, obesidade, asma, alergia, depressão e ansiedade.

Sabe-se que a utilização de probióticos, associados, ou não, aos prebióticos, promove um reestabelecimento do equilíbrio da microbiota, mas será que outros compostos, como os fitoquímicos, podem contribuir para a homeostase desse ecossistema?

A literatura científica já traz algumas evidências. As catequinas do chá-verde, mais precisamente a epigalocatequina-3-galato, são conhecidas pela melhora da relação Firmicutes/Bacteroidetes, favorecendo o tratamento da obesidade, assim como a quercetina. Outros polifenóis do chá também são capazes de reduzir a crescimento de bactérias patogênicas: Clostridium perfringens e Clostridium difficile.

O extrato de semente de uva, rico em proantocianidina, foi capaz de aumentar o número de bifidobactérias em indivíduos adultos, suplementados por duas semanas. O gênero bifidobactéria apresenta a capacidade de produzir vitaminas do complexo B, favorece a absorção de minerais como cálcio e magnésio, além de contribuir com a produção de acetato, um ácido graxo de cadeia curta.

A glycyrrhiza, presente no alcaçuz, é um composto capaz de aumentar os gêneros Ruminococcaceae e Lachnospiraceae, ambos se encontram reduzidos em pacientes com câncer colorretal e, segundo os autores, os pacientes que responderam melhor à imunoterapia assinalaram abundância deles. Já os elagitaninos, substâncias que podem ser encontradas na romã, apresentam ação antimicrobiana contra as bactérias patogênicas Staphylococcus aureaus e Bacillus cereus, além de favorecer o crescimento de bactérias do gênero Lactobacillus.

A identificação dos efeitos dos fitoquímicos na melhora da microbiota intestinal coloca-os como grandes aliados no tratamento de doenças metabólicas devido aos seus reflexos na saúde intestinal, bem como no organismo como um todo.

Referências bibliográficas

Cardona, F.; Andrés-Lacueva, C.; Tulipani, S. et al. Benefits of polyphenols on gut microbiota and implicantions in human health. Journal of Nutritional Biochemistry. 24: 1415-1422, 2013.

Carrera-Quintanar, L.; Roa, R. L. I.; Quintero-Fabián, S. et al. Phytochemicals that influence gut microbiota as prophylactis and for the treatment of obesity and inflammatory diseases. Mediators of Inflammation. 2018.

Espín, J. C.; González-Sarrías, A.; Tomás-Barberán, F. A. The gut microbiota: A key factor in the therapeutic effects of (poly) phenols. Biochemical Pharmacology. 139: 82-93, 2017.

Rowland, I.; Gibson, G.; Heinken, A. et al. Gut microbiota functions: metabolism: of nutrients and other food components. Eur J Nutr. 57(1): 1-24, 2018.

Zhang, X.; Zhao, S.; Song, X. et al. Inhibition effect of glycyrrhiza polysaccharide (GCP) on tumor growth through regulation of the gut microbiota composition. Jornal of Pharmacological Sciences. 137(4): 324-332, 2018.

blank