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Crononutrição: entenda sua importância para a saúde!

A invenção da luz elétrica, em 1879, e o posterior processo de urbanização reinventaram o modo de viver e trabalhar das pessoas, impactando, também, na saúde. Uma das maiores alterações têm relação com o ciclo circadiano e sua disrupção, sendo este influenciado por mudanças nos padrões alimentares e da qualidade de sono. Isso porque a luz permitiu que os seres humanos, até então com hábitos diurnos, pudessem realizar diversas atividades à noite, causando distúrbios ao ciclo circadiano e alterando o sono, ocorrendo supressão da produção de melatonina e desregulando os genes circadianos que estão relacionados com mecanismos metabólicos.

A crononutrição é uma ciência relativamente nova e com crescente interesse nos últimos anos, devido à preocupação com o aumento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares, entre outras. Isso porque essa área mostra algumas correlações para essas prevalências alarmantes. Resumidamente, a crononutrição envolve fatores comportamentais, fisiológicos, metabólicos e epigenéticos ao estudar a relação entre nutrição e o ciclo circadiano, não apenas quanto ao que, mas quando comemos, levando em consideração a rotina alimentar, a frequência e o momento do dia, desse modo, impactando no sistema circadiano.

O sistema circadiano compreende redes de relógios moleculares através dos tecidos do corpo e possui grande plasticidade, e a alimentação pode modificar esses ritmos do nível molecular ao comportamental. Por exemplo, os genes clock do fígado são sensíveis à composição e ao período dos alimentos consumidos. A desorganização do sistema circadiano está relacionada com o desenvolvimento de várias doenças crônicas. Os mecanismos associados com a relação entre nutrição e o ciclo podem ser resumidos em três:

  1. Mudanças no ciclo circadiano afetam a função do metabolismo energético, digestão e absorção através dos três principais genes clock: Bmal-1, Clock, Per½ e Cry½.
  2. O horário em que é feita a refeição influencia no funcionamento do sistema clock, como, por exemplo, pular o café da manhã está associado com o aumento do risco de desenvolver obesidade (OIKE; OISHI; KOBORI, 2014). Inclusive, há estudos na literatura que demonstram que alguns nutrientes e compostos podem avançar ou atrasar os ritmos circadianos.
  3. O sono é um importante fator determinante do relógio interno do corpo e pode mediar efeitos em relação à ingestão de alimentos. Alguns estudos demonstram que uma redução de qualidade do sono pode levar ao aumento da ingestão alimentar e também está relacionada com o aumento de prevalência de DCNT.

Portanto, uma nutrição personalizada, com adequação não somente da quantidade e qualidade, mas também com o auxílio do planejamento dos horários das refeições, com sincronização do ritmo biológico, auxilia a manter os ciclos circadianos amplificados e funcionando de forma adequada, promovendo, assim, mais saúde.

 

REFERÊNCIAS

POTTER, G. D. M. et al. NutritionandtheCircadian System. The British JournalofNutrition, v. 116, n. 3, p. 434-442, 2016.

 

POT, G. K. SleepandDietaryHabits in theUrbanEnvironment: The Role ofChrono-Nutrition. The ProceedingsoftheNutrition Society, v. 77, n. 3, p. 189-198, 2018.

 

OIKE, H.; OISHI, K.; KOBORI, M. Nutrients, clock genes, andchrononutrition. CurrentNutritionReports, v. 3, 204-212, 2014.

ODA, H. Chrononutrition. JournalofNutritional Science andVitaminology, v. 61, p. S92-S94, 2015.