Considerado um problema complexo que afeta homens e mulheres, a celulite ou lipodistrofia ginoide caracteriza-se pela inflamação do tecido celular e foi descrita pela primeira vez na década de 1920.
Cerca de 85% das mulheres, com idade acima de 20 anos, convivem com a celulite, sendo que esta, geralmente, manifesta-se após a adolescência. Com aspecto acolchoado ou de “casca de laranja”, a celulite resulta de uma série de processos inflamatórios presentes nos tecidos adiposos e subcutâneos, e distribui-se pela região pélvica, nos membros inferiores e abdômen.
Embora presente em não obesos, a inflamação torna-se pior à medida que ocorre um aumento no peso corporal. A literatura aponta que pessoas com IMC elevado possuem um tecido conectivo mais fraco e de estrutura menos densa, o que pode conduzir à extrusão de lóbulos de tecido adiposo para a derme, assim, favorecendo o surgimento dos furinhos. Outro fator relacionado ao seu aparecimento é a presença do estrogênio, hormônio tipicamente feminino, que contribui para o acúmulo de gordura. Mirrashed et al. (2004) relatam que, nos homens, o tecido subcutâneo é caracterizado por septos fibrosos finos e glóbulos de gordura contida em cápsulas menores. As mulheres, por sua vez, possuem septos radiais com lóbulos de gordura maiores e, portanto, mais evidentes. Consequentemente, à medida que ocorre o envelhecimento, a pele torna-se mais fina e a celulite mais aparente no corpo feminino.
Diversos tratamentos têm sido propostos para o manejo da celulite, como atividade física e perda de peso, aplicação de agentes tópicos, realização de tratamentos estéticos e uso de suplementos orais. Entre eles, os nutracêuticos à base de colágeno hidrolisado ou os peptídeos bioativos de colágeno têm se mostrado eficientes na melhora da inflamação e da estimulação do metabolismo celular dérmico, uma vez que são capazes de estimular a biossíntese de proteínas estruturais da matriz extracelular. A literatura aponta, ainda, que a ingestão de colágeno hidrolisado fomenta o metabolismo anabólico, pois os fibroblastos são estimulados a produzir proteínas como o colágeno tipo I, além de proteoglicanas como decorina e biglicana. O resultado é a diminuição da flacidez e o aumento da suavidade e da hidratação da pele.
No entanto, é essencial que o nutricionista fique atento à dosagem do produto, bem como à sua qualidade e biodisponibilidade no organismo. Em estudo de revisão, de Choi et al. (2019), os autores avaliaram os efeitos da suplementação com colágeno hidrolisado na melhora da qualidade da pele e na atenuação dos sinais da idade. Após seleção de 11 estudos, foi observado que em oito deles os autores utilizaram de 2,5g/dia a 10g/dia de colágeno hidrolisado, entre oito e 24 semanas para tratar condições de pele, incluindo celulite; em dois estudos, a suplementação contou com 3g/dia de colágeno hidrolisado usado entre quatro e 12 semanas. Apenas um estudo utilizou dipeptídeos de colágeno. Os resultados preliminares mostraram que a ingestão de colágeno hidrolisado por curto ou longo período de tempo resultou em benefícios para a saúde, hidratação e elasticidade da pele, desse modo, melhorando também a cicatrização e a densidade de colágeno dérmico.
Assim, a suplementação oral com colágeno hidrolisado pode ser uma ferramenta eficaz na minimização da celulite, uma vez que esta proteína tem efeito comprovado pela ciência. A fim de alcançar melhores resultados, o nutricionista deve se atentar ao uso de matérias-primas de qualidade e adaptar a prescrição para cada paciente.
REFERÊNCIAS
CHOI, F.D. et al. Oral collagen supplementation: a systematic review of dermatological applications. Journal of drugs in dermatology, v. 18, n. 1, p. 9-16, 2019.
MIRRASHED, F. et al. Pilot study of dermal and subcutaneous fat structures by MRI in individuals who differ in gender, BMI, and cellulite grading. Skin Research and Technology, v. 10, n. 3, p. 161-8, 2004.
SCHUNCK, M. et al. Dietary supplementation with specific collagen peptides has a body mass index-dependent beneficial effect on cellulite morphology. Journal of medicinal food, v. 18, n. 12, p. 1340-8, 2015.
VIDAL, B.A.S.; MOREIRA, T.R. Eficácia de nutrientes na prevenção e tratamento da lipodistrofia ginoide. Rev Bras Nutr Clin, v. 31, n. 1, p. 80-5, 2016.
ZAGUE, V. Celulite: estratégia de uso de suplementos a base de colágeno. Revista Brasileira de Nutrição Funcional. [Internet]. Disponível em:
https://www.vponline.com.br/portal/noticia/pdf/b60ac805c58a279e29f510d00640e65c.pdf. Acesso em: 26 fev 2019.