O atendimento nutricional com foco na saúde da mulher tem seus desafios na prática devido às inúmeras alterações físico-psicológicas desse público e suas fases reprodutivas diferentes ao longo da vida.
Algumas condições clínicas que acometem as mulheres com frequência podem ser moduladas com condutas nutricionais específicas e suplementação adequada. São elas: candidíase fúngica e infecção urinária de repetição.
Infecção urinária na mulher: será que é preciso avaliar a microbiota vaginal?
90% de uma microbiota vaginal saudável é composta por bactérias do gênero Lactobacillus.
Os mecanismos propostos pelos quais este gênero pode prevenir a colonização vaginal por uropatógenos incluem:
– Exclusão competitiva pela adesão de espécies de Lactobacilos às células uroepiteliais
– Redução do pH vaginal pela produção de ácido láctico
– Produção de bacteriocinas, surfactantes e outros produtos antimicrobianos
10% das mulheres contraem a infecção do trato urinário (ITU) uma vez por ano e 40% pode ter o episódio mais de 01 vez ao ano.
Como a nutrição e a suplementação pode ajudar no cuidado preventivo da ITU?
O manejo de estratégias que envolvem as mudanças no estilo de vida, como alimentação e suplementação magistral, faz parte da conduta complementar do tratamento por antibióticos da infecção urinária, ajudando no cuidado preventivo.
O suco fresco foi associado a um menor risco de recorrência de ITU em vários estudos. As proantocianidinas são os fenólicos encontrados no cranberry e outras frutas que podem atuar contra adesão de micróbios na parede da uretra, além de serem eficientes na redução da inflamação (Gbinigie et al., 2020).
O epitélio da bexiga precisa se manter íntegro e para manter a sua capacidade de combater infecções, essas células produzem glicosaminoglicano polissacarídeo sulfatado (GAG). Alguns fatores secretados por E. coli e outros patógenos, são capazes de danificar a camada de GAG para preparar sua adesão. Um estudo (2019) mostrou que a suplementação combinada de dois nutracêuticos, ácido hialurônico e a condroitina, associadas com cúrcuma e quercetina, pode ajudar na prevenção de ITUs de repetição, em mulheres no período fértil e menopausadas.
E quanto à candidíase? Será que manejos nutricionais podem amenizar o quadro?
Em torno de 75% das mulheres terão um episódio de candidíase vulvogenital do trato genital.
A inflamação da mucosa vaginal desencadeada pela presença de fungos do gênero Candida pode ser assintomática ou sintomática, tendo como os sintomas mais comuns a irritação, prurido, presença ou não de corrimento de cor branca, queimação e disúria.
O consumo em excesso de carboidratos refinados, como farinhas e açúcares, se associa com aumento da candidíase recorrente, pelo fato da glicose ser um dos principais substratos para o crescimento da Candida albicans. Melhorar essa qualidade de carboidratos se torna um ponto estratégico na modulação dietética do paciente com candidíase.
Quando à suplementação, pode-se destacar a potente ação fungicida comprovada do uso tabletes de alho de 1500 mg ricos em alicina, diariamente. Em um estudo (2015) dois grupos tiveram redução significativa dos sintomas e da redução da cultura fúngica, com a suplementação de alho, indicando ser um excelente aliado no tratamento da candidíase.
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Referências:
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