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Açúcar: glicação e o impacto da alimentação no envelhecimento da pele

O envelhecimento é considerado um processo natural e temporal, caracterizado por alterações celulares e moleculares, diminuindo progressivamente a capacidade de homeostase do organismo e gerando a senescência, que é um processo biológico que varia de indivíduo para indivíduo. Sua classificação envolve fatores intrínsecos e extrínsecos, sendo que, no segundo caso, relaciona-se principalmente à exposição solar descontrolada ou crônica.

Entre essas alterações, destaca-se o envelhecimento cutâneo, em que ocorre uma diminuição e desestruturação do colágeno, das fibras elásticas e do ácido hialurônico dérmico. Dos mecanismos fisiológicos desse processo, ressalta-se a reação de glicação: uma reação não enzimática entre proteínas e glicose (ou ribose) que forma os produtos AGEs (produtos finais da glicação avançada). Tais produtos agem como fotossensibilizantes e aceleram o fotoenvelhecimento por precipitarem a apoptose dos fibroblastos, assim, degenerando o colágeno.

A alimentação interfere constantemente na produção dos produtos finais de glicação, visto que são formados principalmente por glicose e proteínas. Com isso, a dieta é considerada a principal fonte exógena de AGEs, podendo exercer influência significativa no desenvolvimento de diversos quadros patológicos e ainda acelerar o envelhecimento. Considera-se que aproximadamente 10% dos AGEs ingeridos durante a dieta são absorvidos, embora os mecanismos relacionados à essa absorção não estejam totalmente esclarecidos.

O consumo excessivo de alimentos ricos em açúcares pode levar ao aumento do processo de glicação, pois se misturam com proteínas e formam estruturas rígidas que se acumulam na pele e danificam as fibras de colágeno e elastina, responsáveis pela sua sustentação.

Na indústria alimentícia, diversos produtos são acrescidos de açúcar (sacarose) em sua formulação, bem como outros tipos de substâncias nocivas que promovem reações metabólicas semelhantes ao açúcar propriamente dito. Destacam-se: maltodextrina, xarope de milho, xarope de glicose, frutose, amido modificado, açúcar invertido e ainda corantes artificiais, que também são deletérios à saúde. Essas substâncias podem desencadear o aceleramento da formação de AGEs, contribuindo para o envelhecimento precoce e os distúrbios metabólicos.

Um aspecto importante que pode auxiliar no retardo dessa condição é a presença de compostos que exponham propriedades de antiglicação e/ou antioxidantes nos alimentos, oferecendo um potencial terapêutico para os portadores de patologias associadas ao acúmulo degenerativo de AGEs e degeneração da pele. Ainda que nenhum alimento ou componente alimentar se apresente especificamente como um redutor de AGEs, estudos demonstraram que algumas substâncias possuem efeitos antiAGEs significativos, como, por exemplo: a piridoxamina, a alilcisteína (componente do extrato de alho), os compostos fenólicos, as vitaminas C e E, a tiamina, a taurina e a carnosina, sendo que a modulação desses nutrientes e compostos na alimentação é muito importante

REFERÊNCIAS

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