A acne vulgar é uma alteração inflamatória da pele com patogênese complexa e associada a fatores como histórico familiar, aspectos genéticos e estilo de vida inadequado. Suas manifestações clínicas se caracterizam pela presença de um cômedo, comedão ou “cravo”. As estruturas ocorrem pela obstrução do orifício de saída da unidade pilossebácea, acumulando secreções e restos celulares.
O componente genético tem uma forte relação com a suscetibilidade à acne. A inflamação é um mecanismo patogenético da acne, e os polimorfismos no gene NLRP3 têm sido investigados na mediação e ocorrência do processo inflamatório.
Um recente estudo realizado por Shen et al. (2019) avaliou os polimorfismos no gene NLRP3 em pacientes com acne vulgar e controles saudáveis em uma população chinesa. O estudo foi de caso-controle com 428 pacientes com acne e 384 indivíduos sem o distúrbio, pelo qual se avaliou se o alelo G poderia interferir na expressão do NLRP3. Os resultados genéticos mostraram que indivíduos com polimorfismo no gene detectado estão associados com maior incidência de desenvolver acne vulgar por conta da expressão de citocinas que potencializam a inflamação, portanto, considerado um fator de risco genético na população estudada.
A Propionibacterium acnes é uma espécie de bactéria anaeróbia gram-positiva que se alimenta da secreção produzida pelas glândulas sebáceas e potencializa a inflamação, após contato com os poros epiteliais da pele. Um estudo (2014) avaliou o efeito da bactéria na ativação do inflassoma em glândulas sebáceas humanas. A avaliação dos pesquisadores resultou na descoberta de que a expressão de interleucina IL-1β foi regulada positivamente nas glândulas sebáceas, após a ativação do inflamassoma NLPR pela Propionibacterium. Os achados do estudo permitem destacar que o sebócitos humanos são células imunocompetentes que induzem o inflamassoma, além de que a ativação da IL-1β pode apresentar um papel eficiente no combate a infecções dérmicas e na patogênese da acne.
Por ser um distúrbio com caráter pró-inflamatório, o tratamento da acne deve ser baseado em terapias que amenizem as vias inflamatórias, e a nutrição integrada torna-se uma importante estratégia. A dieta com alto índice glicêmico e a alta ingestão de lácteos são dois fatores relacionados à alimentação com potencial de agravar as lesões de acne. Além do poder acnogênico pela ativação do IGF-1, o leite apresenta estrógeno, progesterona, precursores e esteroides, hormônios e componentes associados à comedogênese. Um plano alimentar anti-inflamatório, com alta proporção de frutas, legumes e verduras, redução no consumo de leite e derivados e inclusão de alimentos com baixo índice glicêmico é ideal para modular e reduzir a acne vulgar.
REFERÊNCIAS
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