Descubra de que forma os probióticos atuam no tratamento da acne
Um estudo pioneiro, em 1930, criou a “consideração teórica e prática do mecanismo gastrointestinal” pelos modos que a pele é influenciada pelo estado emocional e nervoso. Os autores conectaram o estado emocional – depressão, ansiedade e preocupação – às alterações na função do trato gastrointestinal, hipóteses já evidenciadas hoje. Alterações nos estados emocionais podem levar a mudanças na microbiota intestinal normal, aumentar a permeabilidade intestinal e contribuir para a inflamação sistêmica. Assim, o uso oral de probióticos pode regular a liberação de citocinas inflamatórias dentro da pele, e uma regulação específica em interleucina 1 (IL1) seria, certamente, um potencial benéfico ao tratamento da acne. Além disso, a utilização de probióticos encapsulados orais tem o potencial de alterar a microbiota em diferentes partes além do trato gastrointestinal.
Um estudo pioneiro, foi realizado com 300 pessoas com acne vulgaris; estas receberam uma mistura de probióticos (L. acidophilus e L. bulgaricus) via oral, durante 8 semanas, em seguida, duas semanas de wash-out e, então, reintrodução dos probióticos por um período adicional de 8 dias. Os resultados do estudo relatam que 80% das pessoas com acne apresentaram algum grau de melhora clínica, além disso, a intervenção com probióticos foi mais efetiva em casos de acne inflamatória.
Outras pesquisas demonstram que até 40% das pessoas com acne apresentam hipocloridria, levando à hipótese de que o excesso de ácido no estômago bem menor que o adequado poderia definir o cenário de migração de bactérias do cólon em direção às porções distais do intestino delgado, bem como uma alteração da microflora intestinal. Os autores sugerem que uma forma de cortar o ciclo de tensão induzido pelo estresse é fazendo uma introdução direta de organismos acidófilos, tais como os Bacillus acidophilus. A hipocloridria é um fator de risco para a ocorrência de supercrescimento bacteriano no intestino (SCBI). O SCBI é 10 vezes mais prevalente em pessoas com acne rosácea que em indivíduos saudáveis. A correção do SCBI leva a uma marcada melhora clínica em pacientes com rosácea, pois a administração de probióticos pode ser benéfica para a inibição deste.
Um estudo envolvendo 40 pacientes avaliou a eficácia da regulação da flora bacteriana intestinal com probióticos na terapia da acne vulgar. Para isso, os pacientes foram divididos em 2 grupos: Grupo A, recebeu tratamento padrão da acne, com antibióticos; e Grupo B, recebeu o mesmo tratamento padrão associado a um suplemento oral de L. acidophilus e B. bifidum como adjuvante. Além de melhores resultados clínicos entre os pacientes suplementados com os probióticos, os pesquisadores relataram melhor adesão terapêutica ao tratamento com antibióticos, desse modo, reduzindo seus efeitos adversos.
A pele humana normal pode produzir uma série de produtos químicos antimicrobianos que desempenham um papel importante na eliminação de agentes patogênicos cutâneos. Lactobacillus plantarum é uma bactéria gram-positiva que produz peptídeos antimicrobianos, que, quando aplicados na pele, podem agir como anti-inflamatórios, bem como aumentar as propriedades antimicrobianas dérmicas. Foram conduzidos estudos clínicos para determinar o efeito de extratos de lactobacillus (5%) na melhora da barreira cutânea e na redução de edema, microflora cutânea e acne. Os resultados dos estudos foram satisfatórios, com melhora na redução do eritema cutâneo, reparação da barreira cutânea e redução da microflora, bem como exibiram uma redução significativa no tamanho das lesões de acne e do eritema.
Portanto, ao levar em consideração os aspectos mencionados, a suplementação de probióticos e uma alimentação balanceada em micronutrientes e prebióticos são de extrema importância para a promoção do equilíbrio da microbiota intestinal e a prevenção da disbiose, bem como os distúrbios estéticos associados, como a acne vulgar.
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