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A interação do expossoma e da dermatite atópica

Cenário atual da dermatite atópica


Devido ao aumento de sua prevalência nas últimas décadas, a dermatite atópica (DA) tornou-se um problema de saúde pública em âmbito mundial. E ela está associada à grande morbidade e ao impacto na qualidade de vida de quem convive com essa doença.

Em geral, essa doença se desenvolve durante a infância e tem um amplo espectro de sintomas que contribuem para distúrbios funcionais profundos, limitam a capacidade de realizar atividades de vida diária e causam sofrimento psicossocial e estigma. Assim, é relevante se atualizar, sobre essa condição, para conduzir as melhores estratégias ao seu paciente.

Fisiopatologia da dermatite atópica


A dermatite atópica é uma condição dermatológica comum, também conhecida como eczema atópico, que se caracteriza como uma inflamação cutânea crônica e recorrente. Geralmente se apresenta com áreas avermelhadas, rupturas da barreira cutânea e eczemas.

Ela está associada a alterações genéticas na barreira cutânea e à sua defesa imunológica. Assim, em contato com substâncias ou condições ambientais consideradas “gatilhos”, essa falha pode levar à expressão alterada de citocinas pró-inflamatórias, linfócitos e células que apresentam antígenos.

Essas condições podem ser englobadas no termo expossoma, que é definido por todas as toxinas ambientais às quais um indivíduo é exposto no decorrer da sua vida, desde o dia do seu nascimento, e os impactos que elas causam na homeostase do organismo. O papel do expossoma nas doenças cutâneas, como a dermatite, vem ganhando um crescente interesse na ciência nos últimos anos.

Impacto ambiental na fisiopatologia da dermatite atópica


A barreira cutânea constitui a primeira linha de defesa física, química e imunológica contra todos os agressores ambientais. Mas sua homeostase pode ser impactada pelo expossoma, principalmente depois da revolução industrial, urbanização e mudanças nos padrões alimentares, além da perda da biodiversidade no meio ambiente e mudanças climáticas, que levou a uma exposição exacerbada a agentes externos tóxicos, que causam perturbação da integridade física, degradando as proteínas da barreira intercelular, desencadeando respostas de citocina pró-inflamatória e aumentando a permeabilidade da barreira epitelial, além de redução da diversidade da microbiota cutânea, o que desencadeia a dermatite atópica (SÖZENER et al., 2020; STEFANOVIC et al., 2020).

Dermatite atópica x Expossoma

Sözener et al. (2020) pontuam uma série de fatores ambientais que desencadeiam alterações na barreira epitelial, como detergentes, microplástico, alergênicos, cigarro, entre outros, levando à dermatite atópica e a outras condições. Stefanovic et al. (2020) reúnem, em sua revisão, os principais fatores ambientais envolvidos na dermatite atópica, como, por exemplo, a poluição, que leva a modificações epigenéticas induzidas pelo poluentes ainda durante a gestação, com polarização da resposta a um fenótipo TH2, gerando dano aos lipídeos e às proteínas do estrato córneo. As citocinas geradas pelo TH2 levam a uma característica pró-inflamatória e com geração de prurido. Com o contato direto aos poluentes, há geração de um ciclo perpetuador.

Os autores também pontuam o uso de antibióticos e um padrão alimentar ocidental com impacto na microbiota cutânea, com isso, levando à redução da diversidade microbiana reduzida, principalmente das bactérias comensais, conduzindo à resposta inflamatória característica, abordando o papel da suplementação com probióticos durante a gestação (como Lactobacillus e Bifidobacterium) e com prebióticos na infância (fruti e oligossacarídeos) como aliada da prevenção da DA.

Assim, uma visão integrada e multidimensional do paciente é essencial para o tratamento efetivo da DA, de forma a restaurar sua qualidade de vida e seu bem-estar, tendo o nutricionista um importante papel orientador!

REFERÊNCIAS

TORRES, T. et al. Update on Atopic Dermatitis. Acta Med Port., v.32, n.9, p.606-613, 2019. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31493365/. Acesso em: 1º dez. 2020.

VINEIS, P. et al. What is new in the exposome? Environ Int., v.143, 2020. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32619912/.> Acesso em: 1º dez. de 2020.

STEFAVOVIC, N.; FLOHR, C.; IRVINE, D. A. The exposome in atopic dematitis. Allergy, v. 65, p. 63-74. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1111/all.13946. Acesso em: 1º dez. 2020.

PASSERON, T. et al. Clinical and biological impact of the exposome on the skin. J Eur Acad Dermatol Venereol, v.34, suppl 4, p.4-25, 2020. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32677068/. Acesso em: 1º dez. de 2020.

SÖZENER, Z. C. et al. Environmental factors in epithelial barrier dysfunction. J Allergy Clin Immunol., n.145, v.6, p.1517-1528, 2020. Disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32507229/. Acesso em: 1º dez. 2020.