Estudos experimentais e epidemiológicos sugerem que uma alimentação inadequada no início da vida pode alterar permanentemente a estrutura e a função de órgãos específicos ou de vias homeostáticas, assim, programando o estado de saúde e a longevidade do indivíduo, sendo que as evidências elucidam o impacto significativo de mecanismos de regulação epigenéticos nesse fenômeno de programação nutricional e metabólica.
O excesso de tecido adiposo materno pode afetar o desenvolvimento fetal desde sua fase embrionária até o parto, sendo que a taxa de malformações fetais apresenta-se maior em mulheres obesas do que em eutróficas. Além disso, o acúmulo de adiposidade corporal interfere no metabolismo dos folatos, o que elucida a maior incidência de defeitos do tubo neural mesmo com a suplementação do ácido fólico. Em contrapartida, a situação oposta também gera disfunções na programação intrauterina do feto, pois gestantes que recebem uma nutrição inadequada e insuficiente impossibilitam a oferta de nutrientes coerentemente.
A exposição fetal à hipóxia ou baixa disponibilidade de nutrientes desenvolve uma resposta preditivo-adaptativa ao ambiente extrauterino, propiciando interações metabólicas que podem desencadear doenças crônicas na vida adulta e impactar no envelhecimento precoce.
Além disso, as mudanças na composição celular de tecidos, que são induzidas por condições intrauterinas favoráveis, podem influenciar a função fisiológica pós-natal. Sugere-se que o fígado pode representar um órgão-alvo para a programação metabólica, passando por alterações epigenéticas, funcionais e estruturais após exposição a um ambiente intrauterino desfavorável, podendo aumentar o risco futuro de doenças cardiometabólicas e distúrbios da senescência.
REFERÊNCIAS
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