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Ortorexia Nervosa: o excesso de cuidados

Os transtornos alimentares costumam ser reconhecidos como condições clínicas graves, apresentando alta taxa de morbidade e mortalidade e caracterizados por mudanças no padrão alimentar associadas a diversos fatores, tais como estilo de vida, baixa autoestima, aspectos culturais e obsessão pela magreza. A ortorexia nervosa (ON) é um distúrbio alimentar com características similares a outros transtornos, contudo ainda não é reconhecida como tal. Descrita como um comportamento obsessivo patológico que pode ocasionar desnutrição e perda de peso, sua característica principal é a fixação por alimentos considerados saudáveis e pela sua qualidade nutricional, assim, diferenciando-se da bulimia e anorexia nervosa, transtornos que requerem maior preocupação com a quantidade dos alimentos ingeridos.

Na ortorexia nervosa, o foco principal está na qualidade do alimento e na fixação por alcançar uma dieta considerada satisfatória em todos os aspectos nutricionais, nem sempre há preocupação com a imagem corporal. Em relação às semelhanças com outros distúrbios, a pessoa apresenta sentimentos, crenças, pensamentos e comportamentos quanto aos alimentos que são considerados obsessivos. Entre suas principais características, destaca-se a tentativa de se evitar obsessivamente alimentos que possam conter aditivos alimentares, resíduos de pesticidas, ingredientes geneticamente modificados, gorduras em geral, incluindo poli e monoinsaturadas, alimentos que contenham excesso de sódio ou açúcares, bem como atenção à forma de preparação é levada em consideração, que também se converge aos utensílios de cozinha e a outras ferramentas utilizadas no preparo das refeições.

As implicações no estado nutricional de ortoréxicos se assemelham àquelas relacionadas a uma alimentação inadequada, tais como desnutrição energético-proteica, anemias, hiper ou hipovitaminoses, disfunções na modulação da microbiota intestinal, hipotensão, osteoporose e alterações neurológicas, assim, propiciando um quadro de estresse oxidativo geral ao metabolismo. Quanto à desnutrição energético-proteica, a diminuição dos estoques de glicogênio e gorduras promoverá uma redução da reserva energética, assim, utilizando a massa muscular como fonte de energia. Associada à escassez de macronutrientes, observa-se a deficiência de micronutrientes contribuintes para a disfunção do sistema imunológico, o excesso de produção de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio com redução da síntese de enzimas e proteínas. Por conta disso, todas as reações enzimáticas fisiológicas se comprometem, assim, afetando desde a estrutura capilar e epitelial até o sistema endócrino.

O diagnóstico da ortorexia se torna difícil e lento, pois a busca pela alimentação saudável é incentivada como um hábito que promove bem-estar e longevidade. Com isso, o caráter positivo prejudica a aceitação de que o excesso de comportamentos saudáveis possa levar a uma disfunção, principalmente em âmbito social e psicológico.

 

REFERÊNCIAS

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LIMA, AM; GAMALLO, SM; OLIVEIRA, FL. Oliveira. Desnutrição energético-proteica grave durante a hospitalização: aspectos fisiopatológicos e terapêuticos. Rev Paul Pediatr., v. 28, n. 3, p. 353-61, set. 2010.

PONTE, JB; MONTAGNER, MI; MONTAGNER, M. Ortorexia nervosa: adaptação cultural do orto-15. Demetra, v. 9, n. 2, p. 533-548, abr. 2014.

ROCHA, MAP et al. Ortorexia: uma compulsão por alimentos saudáveis. Nutrição Brasil, v. 14, n. 1, p. 52-55, Jan. 2015.

SOUZA, QJO; RODRIGUES, AM. Comportamento de risco para ortorexia nervosa em estudantes de nutrição. J Bras Psiquiatr., v. 63, n. 3, p. 200-4, Jun. 2014.

 

 

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